MOTIVOS DA FUNDAÇÃO DE UMA COLONIA DE CARÁTER NACIONAL

1.1  – MOTIVOS DA FUNDAÇÃO DE UMA COLONIA DE CARÁTER NACIONAL

As causas desse fato, segundo Perardt (1990, p.23) não se encontram somente na história de Santa Catarina. Devem ser buscadas também na história do Brasil, ainda como colônia de Portugal (até 1822 ).

A forma de ocupação inicial do território brasileiro está relacionada com a implantação de Capitanias Hereditárias. Através deste sistema colonial, os portugueses se interessaram somente na exploração do litoral e não do interior da colônia. A partir de 1660, por meio das entradas, do Bandeirantismo, das Atividades Missionárias e da Criação de Gado, é que ocorreu uma ocupação mais intensa do interior. Entretanto, a expansão territorial, do litoral rumo ao interior, deu-se lentamente. Além disso, somente em algumas áreas. Por exemplo, na região Sudeste e Centro-Oeste, foram exploradas algumas áreas, hoje pertencentes ao estado de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Na região Norte, poucas áreas no vale do Amazonas. Nas regiões Nordeste, algumas áreas pertencentes aos atuais estados de Pernambuco e Maranhão. E na região Sul, também, poucas áreas fronteiriças do atual estado do Rio Grande do Sul. Portanto, os portugueses, como colonizadores do Brasil (1530-1822), assemelhavam-se aos caranguejos: de costas para o interior e de frente para o Oceano Atlântico (que levava à metrópole). Caso se movimentassem, andavam de lado, para o Norte ou para o Sul, ao longo do litoral.

Em relação à Santa Catarina, os colonizadores portugueses não fugiram a regra geral. Porém não só não ocuparam o interior como, também, não havia até 1750, fundado uma só vila ou frente colonizadora. Assim, tendo em vista a limitada ocupação do território catarinense, os portugueses decidiram trazer colonos nos arquipélagos dos Açores e de Madeira. Com efeito, entre 1747 e 1756, foram trazidos cerca de 6 mil açorianos e madeirenses. Estes colonos, que representavam o primeiro grande povoamento do território catarinense, foram fixados no litoral (como era costume), nas áreas denominadas de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco (atual São Francisco do Sul) e de Santo Antonio dos Anjos da Laguna (atual Laguna). Próximo a Desterro (Florianópolis), entre outras áreas menores, foram fixados açorianos e madeirenses também nas áreas de São Jose da Terra Firme (atual São José), de São Miguel da Terra Firme (atual Biguaçu) e de Nossa Senhora da Conceição (atual Lagoa da Conceição em Florianópolis).

No início, estes novos colonos tiveram muitas dificuldades de adaptação. Por exemplo, havia sido prometido a eles que, ao chegarem, receberiam um pedaço de terra equivalente a 1.500 braças quadradas, mas nem todos receberam. Levando em conta que cada braça girava em torno de dois metros, este pedaço de terra representava, então, um quadrado de cerca de 80 por 80 metros, o que resultava em 6.400 m², pouco mais de meio hectare. A terra que receberam não era muito apropriada ao cultivo. E os açorianos e madeirenses, quanto à economia, praticavam mais a pesca do que a agricultura. Portanto, por este e outros fatores, acabaram desenvolvendo por muito tempo apenas uma agricultura de subsistência.

Após as primeiras tentativas de ocupação e/ou povoamento do território catarinense, vai ocorrer mais uma região do planalto, onde, em 1766, de acordo com CABRAL (1987, p. 74), é fundada uma povoação denominada de Nossa Senhora dos Prazeres das Lages” (atual Lages). Por este local já passava, desde 1722, o Caminho do Sul”, que ligava o atual Rio Grande do Sul à São Paulo. Este caminho era percorrido pelos tropeiros que, usando de mulas, transportavam mercadorias manufaturadas e produtos agropecuários. Atravessava o território catarinense, passando pelos atuais municípios de Lages, Curitibanos e São Bento do Sul. Por esta época, representava à divisa da Capitania de Santa Catarina, pois a Capitania de São Paulo, se estendia até a de São Pedro do Rio Grande (Rio Grande do Sul). Portanto, Santa Catarina era uma faixa de terra que ai do litoral até este “Caminho do Sul”. Em função do “grande movimento” dos tropeiros, e do “isolamento” do litoral com o planalto, os administradores da Capitania Catarinense, fixados em Desterro, por volta de 1875, começaram a planejar a abertura de um caminho que ligasse esses dois pontos. Isso foi concretizado em 1790, cujo trajeto ia da ilha de Santa Catarina (Desterro), passava pelos atuais municípios de São Pedro de Alcântara, Angelina, Rancho Queimado (Taquaras), Alfredo Wagner, Bom Retiro e chagava até Lages. Desta forma, o atual território de Angelina já era conhecido pelos tropeiros que por aqui faziam o trajeto Desterro-Lages. Porém, nenhum habitante havia ainda se fixado neste local.

Depois que o Brasil se tornou independente (1822), José Bonifácio de Andrade e Silva e a princesa Dna. Leopoldina, prosseguiram com a política imigratória iniciada por D. João VI, que esteve no Brasil entre 1808 e 1821. Por esta época, os administradores políticos “achavam” que o Brasil, por vários fatores deveria ser povoado com maior intensidade. Como não havia possibilidades de trazer imigrantes portugueses, então o povoamento deveria ser concretizado com imigrantes trazidos de outros países europeus (era importante que os imigrantes fossem de etnia branca e católicos).

 

Desta forma, para a então Província de Santa Catarina, eram trazidos, inicialmente, imigrantes alemães, os quais foram fixados em 1829 na colônia de São Pedro de Alcântara.

Entretanto, de 1830 a 1850, a imigração européia teve uma certa retração. Porém, em Santa Catarina, foram realizadas várias tentativas de colonização. Por exemplo, destacam-se, entre outras, a colônia Nova Itália (no Vale do Rio Tijucas), a Colônia Itajaí, a Colônia Industrial do Saí e a Colônia Blumenau.

Com efeito, em 1860, o Brasil continuava ainda pouco povoado. Além disso, era muito grande a necessidade de mão-de-obra em varias partes, principalmente nas lavouras de café, aumentada ainda mais com o término do tráfico negreiro em 1850. Tendo em vista que D. Pedro II tinha preferência por imigrantes alemães (elementos germânicos), e, como esta imigração, no momento, era impedida de vir para o Brasil, pensou-se, então, em usar a população nacional, composta, basicamente, de lusos-brasileiros, para resolver ao menos, o sério problema de povoamento. A razão do controle rígido da imigração alemã para o Brasil em 1857 a 1869, deve-se ao fato de que os governos de estados alemães vieram a saber que os imigrantes eram muito explorados nas lavouras de café em São Paulo. Este controle rigoroso fez com que diminuísse muito a vinda de imigrantes alemães para Santa Catarina (PIAZZA, 1973, p.20).

Então, de um lado, a partir de 1857, existiam grandes dificuldades ou até impossibilidade de trazer imigrantes europeus (sejam alemães ou outros) para colonizar o interior da Província de Santa Catarina. De outro lado, no litoral catarinense, principalmente próximo à capital (Desterro), por varias razões, estava “sobrando” luso-brasileiros (lusitanos), os quais chegavam até a “perambular” pelas vilas ou cidades da época. Em função disto houve, por vários anos, um grande debate entre lideres políticos, comerciantes e a imprensa escrita.

Em Santa Catarina, em termos de povoamento, quase tudo ainda tinha que ser feito. Existiam, portanto, muitos locais importantes a serem ocupados com povoamento e colonização. Um dos mais urgentes, por volta de 1860, ficava no caminho entre Desterro e Lages.

Entre outras características, os lusitanos eram, por tradição, mais dados à pesca do que ao trabalho da lavoura. Apresentavam, assim, algumas dificuldades ao projeto de colonização com elementos nacionais que, na época estava em discussão.

Mesmo assim, o então presidente da província, Francisco Carlos de Araujo Brusque, resolveu encaminhar a D. Pedro II, um projeto de fundação de uma colônia, usando para tanto, os lusitanos do litoral catarinense. O projeto foi aprovado em trinta de novembro de 1859.