OS INDÍGENAS E A COLÔNIA

É bastante interessante notar que, nos dez primeiros anos de vida da colônia, está teve maiores dificuldades com os indígenas. Seguidamente ocorriam encontros pouco pacíficos entre colonos e índios. Por exemplo, estando fixados alguns colonos na margem esquerda do Rio Garcia e, com receio de sofrer algum ataque, pediram auxilio à Presidência da Província, para que fornecesse por empréstimo do corpo policial, armamentos para serem distribuídos aos colonos ali residentes.

Em 1877, eclodiu próximo da colônia um choque de resultados prejudiciais aos colonos. Nas imediações desta colônia, distante talvez três léguas, mais ou menos, os índios mataram, em uma roça, três filhos de Mathias Kalbusch, no lugar denominado Taquaras.

Num relatório de 1877, foi informado que “os indígenas, conhecidos aqui nesta província com o nome de Bugres, têm este ano constantemente aparecido em varias linhas, sendo que seu aparecimento sempre traz um continuo sobressalto aos colonos”.

No dia 4 de março, daquele ano, o Inspetor de Quarteirão Henrique Jünck entrou com dez companheiros no mato, para verificar se era ou não exato que os índios apareceram em terras do colono Augusto Schubert. Seguidos rio acima de um confluente do Rio Engano, acabaram por encontrar vestígios de índios.

Entretanto se os índios “atacavam”, isto representava uma reação justa da parte deles, já que não foram eles que invadiram terras alheias por primeiro. Pois, não se tem registros de uma negociação havida entre colonos e/ou administradores da colônia com os índios.

Em 28 de novembro de 1904 aconteceu mais um lastimável incidente. Era festa de inauguração da igreja Luterana de Coqueiros, na Colônia de Santa Isabel, quando os dois índios atacaram uma localidade vizinha, em Rio Engano. Lá, mataram 6 pessoas: o avô, a mãe e 4 filhos de uma maneira cruel, o que se evidenciava pelos bárbaros ferimentos das vitimas. O marido e outros membros da família estavam na localidade vizinha nesta festa de inauguração. Ao chegar em casa o susto foi grande, pois fazia 25 anos que os índios não apareciam na localidade. Alguns dias depois os índios mataram um cavalo e duas mulas, além de levarem um porco gordo e objetos de metal.

Por estas atrocidades os índios pagaram caro. A pedido de colonos, o Governador enviou o caçador de índios, chamado Martinho, reconhecedor dos costumes indígenas, para vingar o ataque. Martinho Bugreiro, como era conhecido, reuniu algumas pessoas da região e embrenhou-se na mata a procura do acampamento indígena. Após alguns dias, encontrou um grande acampamento composto por 39 cabanas pequenas e, ao lado, uma de grandes proporções. Nesta estavam reunidos os homens, ocupados com trabalhos manuais. Os bugreiros planejaram o “serviço” e, estrategicamente posicionados, começaram a execução da tribo. Terminada a barbárie:

 

Trouxeram 5 crianças na faixa etária de 03 a 12 anos; 05 cargas de mula com flexas, arcos, cestos e outros objetos. Um dos índios raptados que não queria andar foi morto, além do cacique. Por parte dos bugreiros foi morto o irmão do chefe da Expedição. Cada bugreiro recebeu do Governo, pelo serviço 33 mil réis, além de presentes da população agradecida. Martinho, como recompensa, ganhou uma espingarda.

Os índios capturados eram requisitados pelo Governo e pela igreja católica que  os batizava e educava. No inicio do século XX, os “batedores de mato”, com seu comportamento desumano fuzilaram, sem piedade, 145 botocudos entre adultos e crianças. Como troféu, dessa campanha assassina, levaram para Florianópolis 10 inocentes, que o governador fez entregar o asilo de órfãos. O final do episódio foi triste: quase todos faleceram.

Não foi esta a única vez que o homem branco tentou “educar”, à força índios remanescentes das tribos que povoaram o território catarinense.

Em 1905 o Colégio das Irmãs da Divina Providencia recebeu 14 indígenas – duas mulheres e doze crianças – para nele serem educadas e “civilizados”. As índias conseguiram escapar do Colégio acompanhadas de quatro crianças. Capturadas novamente, não resistiram à alimentação e quase todas morreram.


Família de colonos no Centenário de Betânia