OS FATORES DO FRACASSO DA COLÔNIA NACIONAL DE ANGELINA

De modo geral, os fatores mais influentes do fracasso de classificam de acordo com o que segue, conforme PERARDT (1990, p.62):

1º - LOCALIZAÇÃO GEOGRAFICA – A Colônia Nacional de Angelina sente a má localização geográfica. As instruções de 10 de dezembro de 1860, traçam as diretrizes da colonização nacional, localizam a colônia, geopoliticamente, como uma cunha entre os imigrantes alemães nórdicos, da língua saxônica, da região de São Pedro de Alcântara, Leopoldina e Teresópolis. A finalidade era atrair para o interior da província de Santa Catarina o excesso populacional da área litorânea, e, alem de ocupar de forma estratégica e definida o lugar, o novo empreendimentos estaria conforme os interesses políticos das autoridades migratórias.

 

A antiga estrada de Lages foi motivo inicial para fixar o lugar da Colônia Nacional de Angelina. Porém, no momento em que foi aberto um trecho da nova estrada Desterro-Lages, que passou pelo atual município de Águas Mornas, percebeu-se que a instalação da colônia ficou localizada fora do eixo comercial Desterro-Lages.

O Governo Imperial ditou as leis e escolheu os lugares da colônia, porem, pouco fez para que houvesse um desenvolvimento econômico-social razoável. Os reflexos da política migratória acompanhavam o futuro da colônia. O pequeno desenvolvimento que houve foi fruto do esforço individual dos seus administradores e dos colonos.

 

2º - ORDEM ECONOMICA E BUROCRATICA – houve por parte da ação política administrativa, desigualdades no tratamento econômico dado à colonização “nacional” em beneficio a colonização estrangeira. E com isso, não houve igualdade com relação às demais colônias de Santa Catarina. A carência de recursos financeiros trouxe graves conseqüências para o empreendimento colonizador.

A província de Santa Catarina em 1863, votava anualmente 4:000 réis para as despesas do estabelecimento e 1:200 réis ao diretor. Com o dinheiro que sobrava pouco se podia fazer. Assim, a pobreza era grande e constante.

As obras de vital importância para a colônia deixavam de ser autorizadas pelo governo Provincial. Até 1864, não tinha escolas, igrejas, hospital, botica (farmácia) e nem casa para o Diretor da Colônia.

 

3º - VIAS DE COMUNICAÇÃO E ISOLAMENTO – Um dos problemas para o desenvolvimento da Colônia Nacional de Angelina foi o isolamento das precárias vias de comunicação. A colônia localizada longe do centro consumidor não pôde desenvolver uma economia de mercado, sem tecnologia e capital, não possibilitando o desenvolvimento econômico, social e industrial de sua área.

Alguns comerciantes conseguiram adquirir a produção agrícola e preços baixos. Esses passaram o produto para o centro, como a Praia Comprida e a capital.

E muitos agricultores de Angelina abandonaram a colônia, ou ali permaneciam até morrer sem que tivessem conhecido melhores estradas.

Sem boas vias de comunicação ligando os centros produtores aos consumidores, não havia a produtividade e valorização dos produtos agrícolas.

Veja como foi o desenvolvimento das vias de comunicação, desde a criação da colônia até os dias atuais, conforme PERARDT (1990, p.70):

 

A – ANGELINA FLORIANÓPOLIS

Da sede da colônia até São José, só havia uma picada, os tropeiros atravessavam o sertão em busca de comércio com a população litorânea.

A Colônia Nacional de Angelina foi localizada à margem da “estrada velha de Lages”, que descia por Taquaras, passava por Angelina e seguia por São Pedro de Alcântara.

Com a ausência das vias de comunicação nos primeiros anos, Angelina se comunicava com a Capital do Estado, ou com o seu município, São José, através do caminho das pedras, valetas, atoleiros que escondiam traiçoeiras armadilhas para os cascos dos animais.

Essa estrada ruim, sempre necessitava de homens que trabalhavam na sua manutenção. Em 1861 já pensava-se em expandir as vias de comunicação.

Em julho de 1861, contrataram Adriano Machado da Luz, para abrir um caminho na Colônia, desde o morador Waltrich, até Barro Branco. Esse trabalho se estendeu até o final da colônia de São Pedro de Alcântara.

 

B – ANGELINA LAGES

Em 1864, passaram os gastos a ser mensais na abertura da estrada velha para Lages, na importância de 50$000 réis.

E com autorização do Presidente da Província aumentaram-se para 10O$000 réis mensais os gastos das obras. No ano de 1864, foi gasto nessa estrada 331$250 réis.

Neste mesmo ano a estrada para Lages estava já aberta para os tropeiros numa extensão de 7.786 braças da sede da colônia de Taquaras, onde a estrada velha encontra a de Cubatão.

Em 1869, Joaquim de Souza Corcoroca achou a estrada intransitável, e os colonos prestavam seus serviços, mais que animados, com seis dias de serviços, pagos por cada chefe de família.

A ligação de Angelina com Taquaras era de maior conveniência, pois os tropeiros se dirigiam ao norte da Província e passavam pela Colônia até atingir Itajaí ou São José.

Essas estradas foram ameaçadas quando a estrada de Caldas da Imperatriz, sobre Santo Amaro e Taquaras, foi aberta. Às tropas, deixando a variante Angelina – Florianópolis bem menos usada.

Com pequenas modificações a ligação é a mesma que atinge Rio Bonito e Rancho Queimado, encontrando a rodovia Florianópolis – Taquaras – Lages.  Angelina ficava localizada fora da principal rota econômica e seu desenvolvimento não foi aquele que se esperava. Foi uma das razões do seu fracasso.

 

C – ANGELINA TIJUCAS

Em 1862, o Presidente da Província de Santa Catarina abriu um caminho em direção a Tijucas, a fim de facilitar o transporte da produção que era crescente rumo a Capital com: 528 braças e 3 palmos de extensão, com 20 palmos de largura, toda de cava de 8 a 14 palmos com 3 pontilhões.

Em 1864, fizeram concertos nas estradas como covas, estivas e pontes para evitar as enchentes do rio Mundéus. O trabalho era feito com enxadas, picaretas e foice. Em 1864, concluiu-se uma etapa do caminho que dá acesso aos primeiros moradores do Alto Tijucas Grande, no lugar chamado Ribeirão do Major, com contrato de extensão de 3.382 braças.

No final de 1867, foi terminada a estrada de Tijucas desde o lugar do ‘Major’ até o estabelecimento dos Italianos. A estrada aberta do ribeirão dos Mundéus, até no Alto Tijucas Grande, teve a extensão de 32.504.450 m. E a ligação da estrada com a colônia Príncipe D. Pedro. E assim Angelina ficaria em relação direta com os colonos de Itajaí.

Em 1870, os cofres públicos esgotavam as verbas para a colônia. Já em 1871, os concertos e obras eram determinados pelo Presidente da Província.

Ao final de 1875, começou a ser estudada uma proposta de Frederico Von Schaler: uma estrada a partir da Vargem dos Pinheiros, até a colônia evitando o morro das quatorze voltas.

 

Em 1877, achava-se pronta uma distância de 4.125 metros. O que mais prejudicou a Colônia Nacional de Angelina até sua emancipação e alguns anos, até a quarta década foram as precárias vias de comunicação.

A principal ligação de Angelina com a Capital continuou a mesma, passando pela Vargem dos Pinheiros, Barro Branco, Santa Filomena, São Pedro de Alcântara, Colônia Santa Teresa, Santa Ana, saindo em São José e tocando a BR-101.

Em 1871, concluíram-se 300 braças de caminho pela margem direita do Rio Garcia, com desvio ao caminho do morro de Santa Ana, contornando o Rio Tijucas até o ribeirão do Major que era o limite da colônia.

Enfim, só bem mais tarde, no nosso século é que pode ser aberta uma comunicação melhor, descendo o morro do Garcia, atravessando a cidade do Major Gercino até São João Batista, dali em direção a opcional Tijucas (BR – 101), ou a Nova Trento e Brusque, atingindo em Gaspar o asfalto da Jorge Lacerda.

Somente oito décadas após a sua fundação, Angelina teve melhores vias de comunicação. E por um acaso foram concretizados os planos do Governo do estado a construir em Angelina uma usina elétrica sobre o rio Garcia. A estrada Angelina-Florianópolis recebia o trafego mais pesado. A espera foi longa, pois a Usina de Garcia com (9.600 KWS de potência) só foi inaugurada em 1962, um ano após a criação do Município de Angelina.